Eu sabia que era sonho. Aquele sonho meio acordado, meio dormindo. Quando o mundo está prestes a desvanecer nas brumas do imaginário. Eu sabia que estava em casa, mas minha casa era a rua. Uma rua qualquer, com calçada, muro de tijolos, pontos onde grama quer vencer a pedra e coisas assim. Estava deitado na minha cama e caminhava para onde eu não sei. Eu vi um cachorro, nem grande, nem pequeno. Um vira-lata de rua, simpático e com cores que não sei definir. Deitado na minha cama, eu me aproximei dele para lhe fazer um carinho. Algo mudou nele e um fúria incontrolável o acometeu. Avançou para me atacar, com uma voz desesperada. Pulou para me morder. Eu quis fugir, mas estava na minha cama quase dormindo. Eu não tinha para onde ir. Tropecei em meus pés e cai. Uma queda de morte. Uma queda de fim. Uma queda.
Acordei sobressaltado com o coração correndo, o corpo parado, os olhos abertos e leve sensação de não saber em quem confiar.
quarta-feira, 1 de novembro de 2017
domingo, 20 de agosto de 2017
Vinte de Agosto
Penso nas coisas como acontecem. No que elas significam. Me prendo em significados. Nesta noite eu estava na minha cidade natal. Do lado de fora da casa da minha vó que não era a casa da minha vó. Conferi a mochila, o presente, a bicicleta e encontrei uma pessoa. Conversei com esse alguém, não lembro quem. Trocamos palavras, sorrisos, despedidas. Hora de ir para onde eu tinha que ir. Conferi novamente meus pertences. Mania adquirida após anos de perdas consecutivas. Tudo estava ali. Tudo estava comigo. Tudo pronto. É só seguir em frente.
Andei por ruas conhecidas que não era as mesmas de minha infância. Passei ao lado casas e lojas, cumprimentei pessoas, segui meu caminho. Preocupado com o que carregava, fui conferir o que eu tinha. Parei na escola que minha mãe frequentou e comecei a conferir. Hábito de pessoas esquecidas. Encontrei algum conhecido que já não conheço. Conversamos. Sorrimos. Ele me alertou. Falou que em breve eu passaria por uma avaliação e tinha que tomar cuidado com o que carregava. Pensei logo no presente. No que era importante. Me preocupei. Eu não podia ser pego. Segui cauteloso. Fui devagar, mas logo acelerei.
Passei barreira sem ser notado. Agora era só felicidade. Corri como as águas de um rio. Indomável e feliz. Diminui o ritmo e comecei a conferir minhas coisas. A mochila estava ali. O presente também. A bicicleta não. O peso da minha perda me consumiu. Eu tinha que ir, mas não queria deixar nada para trás. Voltei como um raio sem pensar nas consequências. Rosto sem expressão me observavam. Voltei para escola, nada ali. Fui até a praça. Nada. Fui em algumas ruas e nada.
Puxei pela memória que era cada vez mais turva. Tentei lembrar quando eu estava com ela. Na escola? não, não lembro. Nas ruas? Sim, mas já não tenho certeza. Na casa de minha vó? Sim, eu vi ela ali. Quando sai? Sim... talvez... não lembro. Corri até o início.
Eu não conseguia terminar meu caminho. Eu estava preso no passado. Naquilo que ficou pra trás. Meu presente era inútil. Não era possível seguir em frente. Eu me afundava no passado. Eu me agarrava no que tinha perdido. No que já não estava comigo. Percebi que acorrentado ao que já não me pertencia, eu não conseguir chegar ao meu destino.
Acordei com um gosto de passado na boca. Pensei nas coisas que aconteceram. Nos seus significados.
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